sábado, 31 de janeiro de 2015

Bons lugares para serem visitados gratuitamente (I)

Barjas Negri - Publicado no JP 10/01/2015       

          Piracicaba tem bons lugares culturais e de recreação que podem ser visitados, quase todos os dias e, o melhor, gratuitamente. São bem localizados, o que facilita o acesso a pé, por transporte público ou carros particulares. Qualquer pessoa pode fazer um bom roteiro e apreciar as boas opções que a cidade nos oferece.
Vamos começar pelo que é, definitivamente, o maior símbolo da beleza de nossa cidade: o Rio Piracicaba. Um passeio pelas redondezas do rio já é uma fonte imensurável de bem-estar. Neste primeiro roteiro, vamos falar sobre as atrações que ficam à sua margem direita, e o Parque do Mirante é, sem dúvidas, um dos pontos altos do lugar.
Logo na entrada do Parque está o Núcleo de Educação Ambiental - NEA, no prédio onde funcionava o restaurante Mirante. Ao lado do NEA fica o Aquário Municipal, cuja visita é imprescindível. Instalado num dos pontos turísticos mais tradicionais da cidade, o Aquário tem mais de 80 espécies de peixes, reunindo cerca de 3 mil exemplares. O espaço conta com três aquários, cada um com capacidade de 2.400 litros, divididos em Pequenos do Nosso Rio Piracicaba, Pequenos da Amazônia e Exóticos do Mundo Todo.
A variedade das espécies e ecossistemas também se destaca em três lagos ornamentais. No Gigantes do Brasil e Gigantes do Nosso Rio estão peixes brasileiros como tucunaré, pacu, pirarucu, pintado, dourado e piramboia. Já no Lago das Carpas estão mais de 50 delas, dando um colorido especial ao belo cenário. Um dos lagos foi projetado para permitir ao visitante tocar nos peixes.
Depois de visitar o Aquário, caminhar calmamente pelas alamedas do Parque do Mirante é uma excelente pedida. Além da beleza do lugar, o parque oferece a opção de contato único com as árvores nativas - muitas delas catalogadas - e vegetação típica de nossa cidade. No percurso, uma pausa para admirar um painel confeccionado em mosaico pela artista plástica Clemência Pizzigatti e seus alunos, que retrata a fundação de Piracicaba e seu desenvolvimento agroindustrial.
No final do parque, o encontro com o Salto, conhecido como Véu da Noiva, uma referência à forma Piracicaba é chamada – Noiva da Colina. Nada comparável à sensação de caminhar por lá apreciando a beleza natural do Piracicaba, se refrescando com as águas que espirram do Salto, com o barulho e turbulência inconfundíveis de seu rolar pelas pedras e observar a sua calmaria e aves descansando serenamente em pedras ou passeando sobre um troco de árvore que desce rio abaixo.
Saindo do Parque, vale a pena percorrer alguns metros pela av. Maurice Allain e chegar ao Engenho Central, um dos nossos mais famosos cartões-postais. Com seus diversos galpões de arquitetura francesa, o Engenho foi comprado e pago pela Prefeitura durante a minha gestão. São 80 mil metros quadrados de área construída e se constitui no prédio histórico mais fotografado de Piracicaba.
Fundado em 1881, era uma usina de cana-de-açúcar. Desativado em 1974, foi reconhecido como patrimônio histórico e transformado no mais importante espaço de eventos culturais de nossa cidade, ganhando, inclusive, um novo teatro – o Teatro Erotides de Campos –, em um prédio totalmente restaurado, onde funcionava a destilaria de álcool do Engenho.
Atualmente, o Engenho é palco do Salão Internacional de Humor, da Festa das Nações, da Paixão de Cristo, do Festival de Circo, dentre tantas outras atrações. Mesmo não havendo nenhum evento, o Engenho, por si só, já é uma atração. Caminhar observando suas construções antiguíssimas, a beleza do rio e de Piracicaba inspira a todos. Artistas, turistas e moradores locais, ninguém resiste aos seus encantos. Impossível sair de lá sem tirar uma bela foto para guardar para sempre as memórias do lugar.

Duas passarelas sobre o rio integram o Engenho ao Complexo da Rua do Porto, localizado na margem esquerda do rio. A primeira fica em frente ao Centro Cultural e Administrativo Eugênio Nardin; a segunda, mais abaixo, no bosque do Engenho. Esta foi construída durante a minha gestão e é um atraente ponto turístico devido à sua posição privilegiada em relação às belezas do rio. 

Bons lugares para serem visitados gratuitamente (II)

Barjas Negri - Publicado no JP 17/01/2015

No artigo da semana passada, discorremos sobre as belezas e atrações localizadas na margem direita do Rio Piracicaba e atravessamos o rio pela segunda passarela pênsil, que liga o Engenho à Rua do Porto, e é de lá que o roteiro de hoje começa. Na margem esquerda do rio, não é menor a quantidade de atrações que temos para conhecer e desfrutar momentos únicos de descontração, contemplando as mais belas paisagens de nossa cidade.
É lá que fica o Complexo da Rua do Porto, local que retoma a história da cidade contada por seus moradores, o que faz dele um polo atrativo cultural e artístico. A Rua do Porto, por si só, já é um mundo a parte. As centenas de bares e restaurantes coloridos, integrados à beleza natural do lugar, o cheiro inconfundível no peixe no tambor e o seu paladar inigualável já bastam para transformar um domingo em um dia mais que agradável. Imprescindível falar sobre o Projeto Beira Rio que, em suas três etapas, revitalizou e reurbanizou toda a região.
Em frente à Rua do Porto, temos o Parque da Rua do Porto, uma imensa área verde, com mais de 200 mil metros, com lago para atividade de canoagem e lazer com pedalinho, pista para exercício físico, parque infantil e um teatro de arena. É o ponto de encontro da população, visitantes e turistas principalmente pela proximidade com os bares e restaurantes da Rua do Porto.
Outro local que não pode deixar de ser visitado é o Largo dos Pescadores. Antigamente, era chamado de Porto Piracicaba, pois era ponto de chegada e partida de monçoeiros e onde pescadores se encontravam após a pesca. Hoje abriga a sede da Irmandade do Divino e as manifestações populares, sociais, religiosas e folclóricas, durante a Festa do Divino, são ali realizadas. No Largo também fica o píer, ponto de partida de embarcações em eventos diversos, como arrastão ecológico, passeios de barcos, entre outros.
Próximo ao Largo dos Pescadores, temos o Casarão do Turismo, que foi construído no século XIX e é remanescente da antiga Olaria São Paulo, com sua antiga chaminé bem próxima do local. Atualmente é o local de atendimento ao turismo receptivo da cidade. Situa-se no Calçadão da Rua do Porto, espaço privilegiado de onde se tem uma bela vista do rio. Em seu entorno localiza-se a Praça dos Artistas, local utilizado para exposições, cursos, reuniões, palestras e visitação pública.
A Casa do Artesão também merece ser visitada. Inaugurada em 1999, ela, que é tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba (Codepac), abriga importante ponto de venda de artesanato local, além de servir de espaço para exposições, mostras itinerantes e sala para oficinas de artesanato. É uma oportunidade única de o visitante conhecer as tradições e costumes locais em diferentes formas artesanais representativas da cultura piracicabana. Entre o Casarão do Turismo e a Casa do Artesão, uma vez por mês é realizada uma grande feira de artesanato, que conta com a participação dos melhores artesãos de nossa cidade.
Um pouco mais acima do rio, também na margem esquerda e com acesso pelo calçadão da Rua do Porto, está a Casa do Povoador, que foi uma das primeiras construídas, ainda durante o povoamento, e moradia de um dos primeiros povoadores de Piracicaba, o Capitão Antonio Corrêa Barbosa. Hoje ela é um importante centro cultural onde são realizadas exposições, mostras e oficinas de arte. Os famosos bonecos do Elias também podem ser vistos lá. Por seu valor histórico, a Casa do Povoador foi tombada pelo Codepac.
Por fim, já bem próximo do Salto, está o Museu da Água. Inaugurado em 2000, no local que abrigou a primeira Estação de Captação e Bombeamento de água da cidade em 1887, o museu ocupa uma área de 12 mil metros quadrados. Foi o primeiro a ser inaugurado no Brasil com este tema e oferece estrutura para visitação com foco na educação ambiental.
Um dos pontos fortes do Complexo da Rua do Porto é a acessibilidade. Duas passarelas pênseis ligam uma margem à outra do rio, integrando o Parque do Mirante e o Engenho Central ao Complexo da Rua do Porto.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Piracicaba entre as melhores cidades para negócios no país

Barjas Negri 
Publicado no Jornal de Piracicaba sábado, 24 de janeiro de 2015

A revista Exame, em sua edição 1064, de abril de 2014, publicou reportagem interessante sobre as cidades brasileiras que se destacam em questões sociais, de economia e de infraestrutura, criando bons ambientes para os negócios da iniciativa privada.
A publicação se baseia no bom trabalho de pesquisa realizado pela Consultoria Urban Systems, que levantou informações de 293 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes.
Esses municípios concentram 71% do PIB brasileiro.
Foram analisados 27 indicadores socioeconômicos de cada município, obtidos em diversas fontes oficiais das áreas sociodemográfica, saúde, educação, economia, finanças, transportes e telecomunicações, que se constituem em indicadores importantes para pesquisas e tomada de decisões para o setor privado realizar seus investimentos.
Os dados disponíveis permitem comparar os municípios em cada área, verificando suas vantagens e desvantagens.
Com isso, empresários podem se sentir mais confortáveis para tomar suas decisões de investimentos e o setor público, saber onde deve fazer seus investimentos para reduzir seus indicadores menos favoráveis.
Para elaborar o estudo, a Urban Systems desenvolveu o Índice de Qualidade Mercadológica - IQM®, que é utilizado como parâmetro para a qualificação de um determinado mercado e, como parte de uma base de dados comum, possibilita que importantes fatores sejam cruzados entre si, permitindo uma análise consistente da dinâmica do mercado.
Assim, tendo como base cálculos matemáticos e análise técnica, a empresa fez o ranking nacional das melhores cidades brasileiras para negócios, considerando informações populacionais, comerciais, urbanísticas, econômicas e de infraestrutura.
Vitória, a capital do Espírito Santo, aparece em primeiro lugar dentre os 293 municípios com mais de 100 mil habitantes.
No Estado de São Paulo, Barueri é a primeira colocada.
A boa notícia é que Piracicaba ocupa o 10º lugar em São Paulo e o 35º no país, colocando a nossa cidade em posição de destaque e fazendo com que o empresariado nacional considere o município como uma boa alternativa para se investir e conquistar o retorno desses investimentos rapidamente.
Para que Piracicaba chegasse a essa posição, foi necessário muito trabalho e esforço, tanto do setor público como do privado, que realizaram importantes investimentos nos últimos 10 anos.
Os atuais indicadores de transportes, saneamento básico, educacionais e, também, de qualificação de mão de obra de Piracicaba se destacam e fazem grande diferença em relação aos demais municípios paulistas com mais de 100 mil habitantes.
Não foi por outra razão que Piracicaba teve, no período recente, a criação do Parque Tecnológico, do Parque Automotivo e também a consolidação do Distrito Industrial Uninorte.
Além disso, a criação, expansão e modernização de escolas técnicas, faculdades e universidades permitiram aprimorar a capacitação e melhor qualificar os trabalhadores locais, tornando nossa cidade mais atrativa para novos investimentos e ampliando o polo de desenvolvimento econômico liderado por Piracicaba.

Barjas Negri foi prefeito de Piracicaba.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

CADÁVER ADIADO QUE PROCRIA

CADÁVER ADIADO QUE PROCRIA


José Serra - Estadão 22/01/2015


Este ano de 2015 não está trazendo surpresas na economia. Para começar, era óbvio que o governo da presidente Dilma Rousseff descumpriria frontalmente seus compromissos de campanha eleitoral, o que, convenham, não surpreende quem estuda minimamente esse assunto. Creio até que as taxas de traição programática do primeiro governo Lula foram maiores que as do segundo governo Dilma – até aqui, ao menos.

Memória informa e também é política. Lembro-me de um Jornal Nacional no segundo turno das eleições de 2002: o Banco Central (BC) elevara os juros e Lula foi chamado a opinar. Não deixou por menos: “Isso é coisa de governo que serve aos bancos, governo de banqueiros!”. O candidato da situação – eu mesmo! –, em posição obviamente desconfortável, também falou, poupando o BC de críticas e atribuindo a medida às incertezas do processo eleitoral. Desdobramento: o petista venceu, nomeou um banqueiro para a presidência do BC, manteve antigos diretores por um bom tempo, nomeou depois outros piores, pôs os juros nas nuvens, ganhou aplausos de toda a comunidade financeira nacional e mundial e foi chamado de realista pela imprensa. Uma indagação aos navegantes: vale a pena aplaudir estelionatos eleitorais?

Reeleita, Dilma tem de reparar seus erros. É o caso da correção de preços administrados – derivados de petróleo e energia elétrica –, reprimidos anteriormente por interesses eleitorais. A taxa de câmbio nominal deve crescer, a menos que o governo mantenha os subsídios fiscais. Aliás, esse será um grande teste para a política econômica Levy-Barbosa: vai dar sequência à manipulação do câmbio para segurar a inflação mediante operações de venda futura de dólar (swaps), que custam caríssimo ao BC e ao Tesouro e ficam fora do Orçamento federal? Apenas no segundo semestre de 2014 (até novembro), o prejuízo nessa conta alcançou R$ 20,5 bilhões – o mesmo valor do pacote tributário ora anunciado.

Parafraseando o marqueteiro João Santana num ataque mentiroso às pretensões tucanas, o governo Dilma semeou inflação e elevou os juros. Com o aumento de 0,5 ponto ontem, a taxa subiu 1,25 ponto em três meses, o que custa a bagatela de R$ 19 bilhões/ano ao Tesouro – perto de 30% da meta de superávit primário anunciada pelo Ministério da Fazenda. O governo ainda aumentou a alíquota do IOF sobre o crédito ao consumo e elevou juros de financiamento habitacional.

Câmbio, petróleo e energia empurrarão a inflação para cima, noves fora dois fatores atenuantes, que talvez facilitem a acomodação de preços relativos: o enfraquecimento da atividade econômica e a queda dos preços internacionais de commodities.

A fim de conter a deterioração das expectativas sobre a economia brasileira, na iminência de ser rebaixada pelas agências de classificação de risco, a dupla Levy e Barbosa tem investido – até agora de forma bem-sucedida – na imagem da responsabilidade fiscal, abalada pelos números sofríveis e seguidas tentativas de maquiagem feitas até o ano passado. As ambições são moderadas: a meta de superávit primário de 1,2% do PIB para 2015 corresponde ao segundo menor porcentual desde 2000, sendo superior apenas ao de 2014, que foi zero. Como lembrou Francisco Lopes, o ajuste fiscal proposto não deve ser suficiente para estabilizar a trajetória da dívida pública líquida, que poderá saltar de 36% para 40% entre 2014 e 2019.

Neste espaço, desde 2011 procurei mostrar como o governo Dilma era inábil para administrar a difícil herança recebida de seu antecessor, de quem, aliás, ela fora estreita colaboradora. Na década passada o petismo desperdiçou uma das maiores oportunidades econômicas que o Brasil contemporâneo já teve: a notável bonança externa decorrente do crescimento exponencial dos preços de nossas exportações de matérias-primas e a disponibilidade de dinheiro externo abundante e barato.

Em vez de aproveitar essa situação para fortalecer nossa economia, o governo promoveu verdadeira farra voltada para o consumo, graças à sobrevalorização cambial mais estúpida de todas quantas houve. Depois da quebra do Lehman Brothers o BC demorou cinco meses para reduzir os juros, que já eram os mais elevados do mundo, enquanto o restante dos países derrubava rapidamente os seus. Em seguida atuou, para manter o diferencial entre o Brasil e o exterior, atraindo capitais à procura de ganhos extraordinários em curto prazo e apreciando ainda mais o real.

Assim, em vez de fomentar a competitividade da economia, investindo em infraestrutura, reduzindo o custo Brasil e incentivando as exportações de manufaturados, o petismo fez o contrário: barateou as importações e encareceu o preço externo de nossas exportações industriais. O golpe na indústria doméstica foi fatal: até hoje seu nível de produção é inferior ao de 2008; o emprego, 10% menor; a balança comercial de manufaturados, mais ou menos equilibrada em 2002, desabou para um déficit de US$ 70 bilhões em 2010 e mais de US$ 110 bilhões em 2014. Evidentemente, houve um colapso nos investimentos industriais, puxando a economia para baixo, além de elevar o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos à inquietante vizinhança dos 4% do PIB.

Depois do quadriênio perdido, a economia entrou paralisada em 2015 e o Brasil deve assistir ao longo deste ano à marcha da estagflação galopante, com três fatores agravantes: a seca, que amplia as incertezas sobre a oferta de energia, já prejudicada pelos erros nessa área, e o escândalo do petrolão; o terceiro elemento serve de pano de fundo: não há rumo para o médio e o longo prazos. Inexiste até debate a respeito. A maior ambição do petismo, hoje, é a de um milagre: sobreviver até 2018 e tentar (re)eleger Lula. O modelo petista é um cadáver adiado que procria, como escreveu Fernando Pessoa (Dom Sebastião, Rei de Portugal). A oposição pode ir mais longe: além da vigilância, da crítica e da mobilização, tem de forçar o debate de ideias, fazer propostas, apresentar soluções. Eis uma bela e eficaz ação contra quem não tem mais nada a dizer.

* José Serra é - EX-PREFEITO E EX-GOVERNADOR DE SÃO PAULO