sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Projeto Guri: a democratização do ensino de música


 Barjas Negri - Publicado JP 14/04/2012


            Piracicaba é uma cidade essencialmente musical. Um breve passeio pela nossa história e estão lá, ainda no final do século 19, os irmãos Lozzano com o Orfeão Piracicabano ensinando canto capela na Escola Normal. Em outra frente mais popular, o ilustre Cornélio Pires, vindo de Capivari no início do século 20, capitaneava nossos caipiras compondo suas caravanas musicais. O romantismo dos seresteiros sempre presentes nas salas de cinema ou embaixo de uma janela, está até hoje está entre nós. Os cururueiros se reunindo em festas para celebrar os santos mais populares e o Divino Espírito Santo, em especia l, vem de décadas de história.

            A Orquestra Sinfônica de Piracicaba depois de alguns altos e baixos, nos anos 40/50, se consolida com Benedito Dutra. Nesse mesmo período a Sociedade Cultura Artística  amalgama um movimento pela música piracicabana. É quando também surge a Escola Livre de Música Pró-arte, precursora da Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernest Mahle, hoje, em sua plenitude. Tudo se deu se dá com o desejo de revelar o talento da nossa gente.

            E foi com essa mesma proposta, de disseminar o gosto pela música, que temos  investido na formação de crianças, jovens e adultos, de todos os níveis. Entre outras coisas, logo em 2006, estabelecemos parceria com o governo do Estado para instalação de um polo do Projeto Guri, criado em 1995, pelo governador Mário Covas. Inicialmente ele funcionou num dos barracões do Engenho Central, mas com a restauração da Estação da Paulista, suas atividades ganharam um espaço especialmente adaptado para suas  necessidades.

            É importante dizer da dimensão social de sua abrangência e do impacto na formação de novos talentos. Por ano, passam pelo polo do Guri uma média de 300 crianças e jovens, de 6 a 18 anos, em busca de aprendizado sólido para instrumentos como saxofone, flauta transversal, clarinete; trompete, trombone e bombardino; violino, viola, violoncelo e contrabaixo acústico, além de percussão. Paralelamente, existem os corais infantil e infanto-juvenil.

            O Projeto Guri é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscipi), para a qual o estado fornece os instrumentos, sem custo algum para as famílias. Também paga professores especializados para cada instrumento, hoje são 7, e toda a equipe técnica para acompanhar as atividades. Lá, os alunos participam de aulas coletivas de música e são cobrados em seu desempenho, como forma de avaliação. Na contrapartida, a cidade, pela Secretaria da Ação Cultural, garante instalações, logística e estrutura administrativa.

            Além do aspecto educacional, o projeto é socioeducativo. Sempre que são recebidas crianças vindas de famílias desestruturadas, elas recebem também acompanhamento da Secretaria de Desenvolvimento Social (Semdes). Quando necessário, em função de problemas com violência, saúde ou drogas, elas são encaminhadas para a rede social. Por outro lado, a música também faz com que a criança se expresse de forma prazerosa, ganhe autonomia de estudo e torne-se disciplinada. Esse trabalho tem dado excelentes resultados na formação emocional e intelectual dos alunos. Eles revelam talentos, desenvolvem autoestim a, capacidade de concentração e  responsabilidade para o estudo.
            De acordo com a evolução dos aprendizes, o município faz parcerias com orquestras, com a Empem e com o Conservatório de Tatuí, entre outras, para aprimorar ainda mais seus estudos com ajuda de bolsas. Há, ainda, o intercâmbio com escolas dos EUA e da Alemanha. Tudo isso sempre com algum tipo de ajuda oficial.

            A amplitude e o sucesso do Projeto Guri pelo Estado, hoje com 400 polos, fez com que surgisse em Jundiaí, uma orquestra específica para jovens do programa que poderão também se profissionalizar. Daqui, 20 alunos disputaram uma das 60 vagas e aguardam resultados. Independente de conseguirem ou não, podemos dizer com segurança que esses jovens dedicados já vislumbram novos horizontes, seja de ascensão na carreira musical, seja por terem adquirido formação suficiente para bem levar adiante suas vidas.

            Estamos fortalecendo a vocação da cidade, democratizando o direito à boa formação musical para todos os interessados. Também estamos reforçando o intercâmbio com outros municípios que compõem o Projeto Guri. No dia 10 de junho promovemos o Encontro de Polos de Coral, no Teatro Municipal Dr. Losso Netto. É a dom  musical do nosso povo, perpetuado de geração em geração.

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