Jovens podem ser os mais prejudicados por queda na economia
MAURO PAULINO - DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI - DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA
Mas limitar a análise ao universo dos que exclusivamente são
estudantes é subestimar o potencial de impacto da economia e,
principalmente, de eventuais mudanças na lei de terceirização sobre a
maioria do segmento --o conjunto dos jovens que já trabalham.
Segundo a última pesquisa nacional do Datafolha, a grande maioria
dos brasileiros que têm de 16 a 24 anos faz parte da população
economicamente ativa e a maior parcela (31%) é de assalariados com
registro em carteira. O mercado informal (sem registro ou free-lance),
que há 19 anos caracterizava o estrato, totaliza hoje 21% e a taxa dos
que só estudam é de 25%. Estão buscando um emprego 8%.
Entre os jovens de 1996, pela base de dados do Datafolha, a
situação era inversa: 22% tinham registro em carteira e 32% estavam no
mercado informal. Nos anos seguintes, a situação piorou e a
informalidade, somada à busca por um emprego, atormentou a realidade da
maior parte dos jovens de 2003. Na ocasião, o desemprego cresceu acima
da média no estrato e chegou a bater 14%.
O grau de escolaridade do segmento aumentou significativamente a
partir do final da década de 1990. Há 19 anos, a maioria tinha apenas o
ensino fundamental e a taxa de nível superior era de somente 5%. Hoje,
65% têm o nível médio e 22% cursam ou cursaram uma faculdade.
Nos
últimos 12 anos, os jovens apresentaram taxas de inclusão na população
economicamente ativa acima da média, especialmente no mercado formal.
De 2002 em diante, o crescimento de participação de assalariados
registrados na composição total da população subiu 9 pontos percentuais,
enquanto entre os mais jovens, essa taxa foi de 14 pontos.
Por talvez ter conhecido apenas essa realidade, o estrato se
apresenta um pouco menos pessimista do que as outras faixas etárias
quanto ao aumento do desemprego e à queda no poder de compra.
Por outro lado, predominante nas jornadas de junho de 2013, esse é
hoje o segmento mais apartidário, mais favorável aos protestos contra o
governo e o que mais pede abertura do processo de impeachment de Dilma,
apesar de quase 1/3 não ter votado na última eleição e de 35% avaliá-la
como regular no cargo. Mesmo que crianças e adolescentes na maior parte
das gestões petistas, é o grupo que mais cita Lula como o melhor
presidente da história e o que mais aponta a educação como principal
problema do país.
Cortes em políticas da educação, mudanças na lei de terceirização e
a diminuição da maioridade penal, a depender dos formatos adotados, têm
um potencial muito maior de frustrar esse segmento do que qualquer
outro estrato da população.
Se a meta é, de fato, gerar maior
inclusão e diminuir a violência, deve-se atentar também para a ameaça de
se armar uma bomba relógio demográfica, capaz de recrudescer o que se
comunica combater, agravando ainda mais a crise de representação.
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