Barjas Negri - Publicado no Jornal de Piracicaba - 05/11/2011
A redução da mortalidade infantil não é resultado de um trabalho simples em nenhuma parte do mundo, muito menos em países pobres ou em desenvolvimento, como o Brasil, porque envolve infraestrutura urbana, condições socioeconômicas e aspectos culturais da população. Exige ainda envolvimento do poder Público e da sociedade para enfrentar, juntos, os problemas sociais que ampliam os riscos para que a gestação e o pós-parto sejam saudáveis.
Não adianta apenas melhorar a qualidade de atendimento do pré-natal nos postos de saúde, por exemplo, se a mãe está em uma favela sem saneamento básico e água potável. O monitoramento tem que levar em consideração, além das condições de vida dos atendidos, as características de saúde da futura mãe: se ela é diabética, hipertensa, tem vícios ou toma algum tipo de medicamento específico. As variáveis que influenciam no sucesso ou não de uma iniciativa são muitas.
Os hospitais precisam estar preparados para oferecer um bom serviço de parto e orientação. A amamentação tem que ser estimulada à exaustão. O apoio à mãe e ao bebê precisa ter sequência depois que a criança nasce, até que complete pelo menos um ano de vida. As vacinas precisam estar disponíveis nas unidades de saúde e as mães precisam vacinar seus filhos. Devido a essa complexidade, que exige uma estrutura funcional, coordenada por pessoas conscientes de seu papel, o Brasil tem melhorado lentamente no ranking mundial de mortalidade infantil, com avanços mais rápidos em regiões onde a situação socioeconômica é mais adequada.
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), de 22.5 mortes para cada mil crianças nascidas vivas, registradas em 2004, o índice de mortalidade infantil no Brasil baixou para 21.7, em 2010. No Estado de São Paulo eram 14.5 mortes em 2004 e declinou para 11.9. Em Piracicaba, no mesmo período, a taxa foi reduzida de 14.9 para 10.4. Ou seja, a situação de São Paulo é muito melhor que a do Brasil e Piracicaba, que estava acima da média estadual, agora se encontra abaixo, o que a coloca próxima de regiões, em que a taxa média não passa de um dígito.
Para alcançar esse índice, desde 2005 colocamos na rua o programa “Pacto pela vida, contra a mortalidade infantil”, amparado em um leque de ações do governo municipal, envolvendo parcerias com o governo estadual e entidades assistenciais, ampliação dos serviços oferecidos pelos hospitais, ONGs e a Central da Gestante, bem como com o apoio da Atenção Básica, ou seja, das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Programa de Saúde da Família (PSF).
Por intermédio do Centrus, a Secretaria Municipal de Saúde intensificou o serviço de monitoramento às gestantes de alto risco e adolescentes, que passaram a receber cuidados diferenciados. As equipes do Programa de Saúde da Família (PSF) foram treinadas especificamente para fazer valer o Pacto, dando toda a assistência necessária. As unidades de saúde facilitaram os exames de pré-natal. A estratégia deu certo porque protegeu a gestante de forma que ela desenvolvesse uma gravidez saudável e, consequentemente, tivesse filhos saudáveis.
O fortalecimento da parceria com a Pastoral da Criança foi fundamental, porque a entidade já tinha experiência para esse tipo de serviço e penetração junto à população mais carente. O mesmo se deu com as demais organizações sociais que têm a mãe e o bebê como foco de suas atuações. Todos os hospitais da cidade encamparam a proposta capacitando suas equipes.
Paralelo a isso, o Semae e a Empresa de Desenvolvimento Habitacional (Emdhap) trabalharam pesado na urbanização de favelas, subsidiando o fornecimento de serviços públicos essenciais à população carente, como água potável – dentro do programa Água para Todos, do Semae – e energia elétrica, além da universalização da coleta de esgoto. Foram várias as intervenções nesse sentido, beneficiando centenas de famílias. Para citar como exemplos, temos os núcleos do Cantagalo, MAF, Maria Cláudia e Esplanada, alguns dos mais conhecidos, agora transformados em bairros.
O resultado? Conseguimos salvar em seis anos 132 bebês, que teriam morrido não fosse todo esse empenho sincronizado. Este número, por si só, já é motivo de comemoração. Em reconhecimento ao nosso trabalho, em 2008, o projeto “Pacto pela vida contra a mortalidade infantil” ganhou dois prêmios do Ministério da Saúde. No entanto, não podemos esquecer que este é o tipo de trabalho que não tem fim e precisa ser melhorado ano a ano, sob o risco de retrocesso em caso de afrouxamento. Só assim a cidade poderá, o mais breve possível, se consolidar no ranking dos municípios com índice de mortalidade infantil na casa do um dígito, salvando a vida de um número maior de crianças.
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