Dedini, patrimônio de Piracicaba ameaçado por (ir)responsabilidade federal!
As
indústrias Dedini estão diretamente ligadas ao crescimento e
desenvolvimento econômico de Piracicaba e têm grande participação
na consolidação de diversas entidades sociais na cidade. Em minha
dissertação de mestrado, intitulada “Estudo
de caso da indústria nacional de equipamentos: Análise do Grupo
Dedini (1920-1975)”,
recentemente publicada pela Editora Equilíbrio, sob o patrocínio do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, tive a oportunidade
de evidenciar toda a trajetória e importância da empresa para a
indústria nacional, especializada no setor sucroalcooleiro.
Durante
o nosso primeiro mandato como prefeito de Piracicaba, assistimos a
uma expressiva expansão e diversificação industrial do Grupo
Dedini, gerando renda e empregos para milhares e milhares de
trabalhadores, tendo na produção de equipamentos para a expansão
do etanol uma carteira de encomendas que ultrapassava três anos. Até
que veio a crise internacional de 2008/09, que o presidente Lula, de
forma imprudente, tratou como uma “marolinha”, mas que, na
verdade, afetou toda a economia brasileira e, em especial, o setor
industrial. No caso da Dedini, grande parte de suas encomendas foram
postergadas, revisadas e até canceladas.
O
agravante dessa situação foi o descaso duplo do governo federal,
que adotou uma política totalmente equivocada em relação à
Petrobras, colocando em risco uma das mais importantes empresas
brasileiras, para manter o preço da gasolina “tabelado” e
controlar, artificialmente, a inflação. Com isso, além de estagnar
a Petrobras, o governo provocou uma crise sem precedentes no setor
produtivo de etanol, cujos preços têm relação direta com o da
gasolina. Controlar o preço da gasolina é controlar o do etanol e,
com preços baixos, o etanol perdeu competitividade, as usinas
deixaram de investir, a produção caiu e as encomendas dos
equipamentos da Dedini “evaporaram”.
O
resultado disso rapidamente pôde ser observado. Nos últimos anos,
foram fechadas mais de 43 usinas e outras 36 entraram em recuperação
judicial. Outro importante sinal da crise que enfrenta o setor é que
nenhuma nova usina foi construída no país. Tudo isso teve reflexo
significativo nas empresas produtoras de equipamentos para o setor,
em especial na Dedini, em Piracicaba, e em outras de Sertãozinho,
que encolheram, demitiram funcionários, ficaram com dívidas e
deixaram de recolher tributos. Daí o nosso espanto e tristeza com a
manchete do JP
do último domingo, dia 09/03/2014, “Imóveis
de R$ 203 milhões da Dedini vão a leilão”,
resultado, em grande parte, da falta de encomendas e do apoio federal
ao setor sucroenergético.
Não
é a primeira crise que a Dedini enfrenta e temos certeza que ela
conseguirá sair dessa delicada situação. No entanto, é preciso
deixar clara a responsabilidade do governo federal em relação ao
setor do etanol, que é uma energia limpa. Para se ter ideia, em
2009, o setor produziu e vendeu 16 bilhões de litros de etanol
hidratado no Brasil. Em 2011, a produção e as vendas caíram para
11 bilhões de litros - uma redução de 34%.
Caso
a política nacional de biocombustível fosse prioridade e recebesse
apoio de políticas públicas adequadas para a retomada do seu
desenvolvimento, o Brasil teria um potencial de consumo de 40 bilhões
de litros de etanol hidratado por ano, em virtude do crescimento da
frota de veículos flex
fuel,
o que seria um grande alento para as usinas e empresas de máquinas e
equipamentos.
Lamentavelmente,
o que se vê é exatamente o contrário: o incentivo ao consumo de
combustível sujo e importado (gasolina) em detrimento ao de um
combustível renovável e limpo (etanol), com predomínio tecnológico
brasileiro. E o pior: o Brasil, de exportador de etanol de
cana-de-açúcar, passou a ser importador de etanol de milho dos
Estados Unidos. Dá para acreditar?
É
uma pena que a irresponsável política econômica do governo federal
esteja contribuindo para uma acentuada desindustrialização no país
e, com isso, levando de roldão um segmento importante, liderado
pelas indústrias Dedini, patrimônio nacional, e, sobretudo,
piracicabano.
15/03/2014
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