sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Piracicaba Novos Tempos, Novos Caminhos I


Dedini, patrimônio de Piracicaba ameaçado por (ir)responsabilidade federal!


Barjas Negri - JP – 15/03/2014



As indústrias Dedini estão diretamente ligadas ao crescimento e desenvolvimento econômico de Piracicaba e têm grande participação na consolidação de diversas entidades sociais na cidade. Em minha dissertação de mestrado, intitulada “Estudo de caso da indústria nacional de equipamentos: Análise do Grupo Dedini (1920-1975)”, recentemente publicada pela Editora Equilíbrio, sob o patrocínio do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, tive a oportunidade de evidenciar toda a trajetória e importância da empresa para a indústria nacional, especializada no setor sucroalcooleiro.
Durante o nosso primeiro mandato como prefeito de Piracicaba, assistimos a uma expressiva expansão e diversificação industrial do Grupo Dedini, gerando renda e empregos para milhares e milhares de trabalhadores, tendo na produção de equipamentos para a expansão do etanol uma carteira de encomendas que ultrapassava três anos. Até que veio a crise internacional de 2008/09, que o presidente Lula, de forma imprudente, tratou como uma “marolinha”, mas que, na verdade, afetou toda a economia brasileira e, em especial, o setor industrial. No caso da Dedini, grande parte de suas encomendas foram postergadas, revisadas e até canceladas.
O agravante dessa situação foi o descaso duplo do governo federal, que adotou uma política totalmente equivocada em relação à Petrobras, colocando em risco uma das mais importantes empresas brasileiras, para manter o preço da gasolina “tabelado” e controlar, artificialmente, a inflação. Com isso, além de estagnar a Petrobras, o governo provocou uma crise sem precedentes no setor produtivo de etanol, cujos preços têm relação direta com o da gasolina. Controlar o preço da gasolina é controlar o do etanol e, com preços baixos, o etanol perdeu competitividade, as usinas deixaram de investir, a produção caiu e as encomendas dos equipamentos da Dedini “evaporaram”.
O resultado disso rapidamente pôde ser observado. Nos últimos anos, foram fechadas mais de 43 usinas e outras 36 entraram em recuperação judicial. Outro importante sinal da crise que enfrenta o setor é que nenhuma nova usina foi construída no país. Tudo isso teve reflexo significativo nas empresas produtoras de equipamentos para o setor, em especial na Dedini, em Piracicaba, e em outras de Sertãozinho, que encolheram, demitiram funcionários, ficaram com dívidas e deixaram de recolher tributos. Daí o nosso espanto e tristeza com a manchete do JP do último domingo, dia 09/03/2014, “Imóveis de R$ 203 milhões da Dedini vão a leilão”, resultado, em grande parte, da falta de encomendas e do apoio federal ao setor sucroenergético.
Não é a primeira crise que a Dedini enfrenta e temos certeza que ela conseguirá sair dessa delicada situação. No entanto, é preciso deixar clara a responsabilidade do governo federal em relação ao setor do etanol, que é uma energia limpa. Para se ter ideia, em 2009, o setor produziu e vendeu 16 bilhões de litros de etanol hidratado no Brasil. Em 2011, a produção e as vendas caíram para 11 bilhões de litros - uma redução de 34%. Caso a política nacional de biocombustível fosse prioridade e recebesse apoio de políticas públicas adequadas para a retomada do seu desenvolvimento, o Brasil teria um potencial de consumo de 40 bilhões de litros de etanol hidratado por ano, em virtude do crescimento da frota de veículos flex fuel, o que seria um grande alento para as usinas e empresas de máquinas e equipamentos.
Lamentavelmente, o que se vê é exatamente o contrário: o incentivo ao consumo de combustível sujo e importado (gasolina) em detrimento ao de um combustível renovável e limpo (etanol), com predomínio tecnológico brasileiro. E o pior: o Brasil, de exportador de etanol de cana-de-açúcar, passou a ser importador de etanol de milho dos Estados Unidos. Dá para acreditar?
É uma pena que a irresponsável política econômica do governo federal esteja contribuindo para uma acentuada desindustrialização no país e, com isso, levando de roldão um segmento importante, liderado pelas indústrias Dedini, patrimônio nacional, e, sobretudo, piracicabano.



15/03/2014

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