sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Uma cidade que mantém sua tradição festeira


Barjas Negri - Publicado JP 30.06.2012
  
         Piracicaba é uma cidade eminentemente festeira. Esta característica está em sua gênese. A historiadora Marly Therezinha Germano Perecin escreveu vários artigos sobre o assunto em que destaca, entre outros, os encontros das famílias ribeirinhas – quando da formação da cidade – para as Festas do Divino Espírito Santo. Elas aconteciam nas imediações da primeira igreja, na margem direita do rio Piracicaba. Os moradores “de cima” e os moradores “de baixo” faziam o encontro das bandeiras com as embarcações em pleno leito, após o período das cheias, com o objetivo de celebrar a vida em um ritual movido a cantoria, orações e mesa farta. E vemos até hoje, a tradicional festa realizada sem perder suas referências originais, diretamente relacionadas à condição ribeirinha e à fé primitiva.
         A cidade conseguiu, ao longo de sua história, consolidar muitas outras festas, seja de cunho religioso ou filantrópico. A lista, se colocada na íntegra, tomaria todo esse espaço. Elas movimentam tanto a zona rural como a urbana, distribuídas ao longo do ano de forma equilibrada, para satisfazer toda sociedade. Algumas se sobressaem, como a de São João de Tupi, a do Milho Verde em  Tanquinho, a do Vinho de Santana, a da Polenta em Santa Olímpia, a Festa das Nações e outras, todas atraindo grande público.
         Há festas que caíram no gosto popular por seu cunho religioso, envolvendo diversas igrejas e orientações dogmáticas, relacionadas aos períodos de plantio e colheita, com deuses exercendo funções como fertilizar a terra, proteger a plantação e assim por diante. Essas, atravessam o tempo e se perpetuam, com novos arranjos e interpretações, como as festas juninas que acontecem fortemente na área rural, nos clubes da cidade e até geraram a Piracaipira, que ajuda a também manifestação popular: a das escolas de samba durante o Carnaval.
         Há outras que ganharam importância por sua natureza social e de solidariedade, em que a arrecadação é usada pelas entidades para projetos assistenciais e filantrópicos. Há, ainda, aquelas que foram criadas para marcar a identidade do município, mas  desapareceram, para ressurgir tempos depois. É como a Festa do Peixe, criada nos anos 50/60 com o objetivo de atrair a população para o Rio Piracicaba, na Rua do Porto. Por incrível que pareça, apesar do rio famoso e de seus pescadores, não havia uma festa dessa natureza. Artistas e intelectuais tinham o gosto pelos encontros na margem do rio, mas ainda não era um hábito coletivo organizado, além das festividades do Divino. Por algum motivo adverso, apesar do apoio oficial, ela foi interrompida. Mas, pelo fato de ser uma boa ideia, mesmo depois de longo tempo, ganhou uma nova roupagem e, juntando-se a outro item da nossa cultura, virou a Festa do Peixe e da Cachaça.
         De maneira geral, todas essas comemorações estão ligadas à gastronomia, aos
pratos caipiracicabanos ou aqueles trazidos pelos imigrantes. Elas se mantém porque a população está sempre disposta a reunir os familiares e amigos para passar algumas horas se deliciando ao redor de uma boa mesa, numa animada roda de conversa. Esse espírito é tão nosso, que a Secretaria de Turismo se tornou parceira das principais realizações, conseguindo também, incrementar o turismo local. As cidades vizinhas costumam ficar atentas para não perder a oportunidade de passear por aqui nessas datas.
         Assim, integram nosso calendário anual eventos mais diretamente ligados à boa comida como as Festas da Mandioca, da Batata, da Tapioca e do Sorvete, por exemplo, coroado por um outro momento que envolve toda cidade no Festival Gastronômico. Há, ainda, aquelas que retratam outras culturas: a Festa Mineira e a Festa da Primavera da colônia nipônica. Não podemos esquecer do aniversário de Santa Teresinha e a mescla religiosa gastronômica trazida pela Festa de São José, em março.
         Com tudo que têm de cultural, estas festas tornaram-se fonte de recursos para o município, que se firma como pólo econômico e cultural da região. Para dar o suporte necessário a essa dinâmica, o governo municipal tem investido em infraestrutura, ampliando e equipando espaços públicos. Aliás, boa parte deles tem convergido para o complexo do Engenho Central, Rua do Porto e Largo dos Pescadores. O fato é que, felizmente, vivemos numa cidade pujante e feliz, que trabalha muito, mas mantém viva sua cultura e não abre mão de seus dias de diversão. Vamos para a festa?

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