segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Polo Nacional de Biocombustíveis em Piracicaba: ninguém sabe, ninguém viu!

Ilustração Erasmo Spadoto

Barjas Negri - Publicado no JP - 14/02/2015

Em 2004, Piracicaba recebeu a comitiva presidencial com Lula, sua ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e diversas outras autoridades, como ministros, dirigentes de estatais, pesquisadores, não faltando os conhecidos “assessores do governo”.
Recepcionada em solenidade com pompa e ostentação na Esalq/USP, a comitiva presidencial anunciou a criação do Polo Nacional de Biocombustíveis na cidade que, por sua tradição e competência tecnológica e liderança em pesquisa, contribuiria para o Brasil dar mais um salto na produção de energia renovável.
O Polo, que teria apoio e recursos federais, tinha como proposta transformar Piracicaba em um Centro de Referência Internacional para a produção de biocombustíveis, visando manter e ampliar a capacidade de competição brasileira no desenvolvimento de pesquisa e produção de energia renovável por meio da cana-de-açúcar, madeira, girassol, milho, amendoim e soja.
Ao Polo caberia centralizar todas as ações para o desenvolvimento e a utilização de biocombustíveis tanto de etanol como de biodiesel.
Participariam da sua articulação os ministérios da Agricultura, de Ciência e Tecnologia e o de Minas e Energia, além da Esalq e outros órgãos públicos federais e estaduais. A expectativa era de um investimento federal inicial da ordem de R$ 100 milhões.
Terminado o evento, a comitiva presidencial foi embora, deixando para trás não só o entusiasmo dos pesquisadores e empresários, como também o orgulho da população pelo fato de Piracicaba ter sido escolhida em nível nacional para tão importante missão.
A classe política local e regional não se continha de contentamento por tamanha conquista, pois, afinal, um empreendimento dessa dimensão seguramente traria dividendos eleitorais. Por mais de um ano, a classe política e empresarial não falavam em outra coisa, senão da importância desse Polo Nacional.
Vejamos o que aconteceu de lá para cá, exatamente 10 depois do anúncio do presidente Lula. Nada, praticamente nada ou quase nada.
Piracicaba recebeu investimentos federais para a instalação do Polo? Não! A Esalq foi incluída em novas linhas de financiamento para pesquisas na área de biocombustível? Não! Os empresários locais realizaram investimentos na produção de equipamentos ou máquinas para o setor? Não! Os empresários investiram na produção de biocombustível na região? Não!
O que ficou de tudo isso? Apenas o que Piracicaba já tinha de referência: a Esalq, o CTC, o APTA, o CENA, suas indústrias de equipamentos para o setor energético, destilarias de álcool e empresas de projeto.
Dado ao fracasso do Polo, a sociedade local se organizou e criou o Arranjo Produtivo Local do Álcool - APLA, implantou a Fatec - Energia e o Parque Tecnológico.
Essa articulação das autoridades, empresários, consultores e pesquisadores da cidade e região mantém acesa a necessidade de mais pesquisa para o setor de biocombustível, cuja política nacional esta sucateando um setor promissor.
Além de não ter implantado o Polo de Biocombustíveis em Piracicaba, há um agravante. A política equivocada do Governo Federal em relação aos preços dos combustíveis da Petrobras, que a colocou em situação financeira extremamente delicada, mantendo o preço da gasolina “controlado” para conter a inflação, também prejudicou o setor de usinas e destilarias de etanol.
Com isso, além de estagnar a Petrobras, o governo provocou uma crise em precedentes no setor produtivo do etanol, cujos preços têm relação direta com a da gasolina. Assim, com preços defasados, o etanol perdeu competitividade e as usinas deixaram de investir.
O resultado foi um desastre: nos últimos anos, foram fechadas 43 usinas e outras 36 entraram em recuperação judicial. Além disso, nenhuma nova usina foi construída e as indústrias de máquinas e equipamentos para o setor, que se concentram em Piracicaba e Sertãozinho, estão em crise e demitindo trabalhadores por falta de encomendas.
Não adianta continuar falando do Polo, que foi um verdadeiro engodo federal, entre tantos outros anunciados em período recente. É uma pena que Piracicaba tenha comprado gato por lebre e que ainda tenha articulista que, com ufanismo, ainda enaltece essa falácia.
Barjas Negri foi prefeito de Piracicaba (2005-2012)

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