O senador paulista José Serra (PSDB) ocupou a tribuna do Senado, na
última quinta-feira (4), e fez um pronunciamento abordando os graves
problemas da economia brasileira hoje, mostrando suas causas e
consequências. Estou disponibilizando o texto abaixo. Quem se
interessar, garanto que a leitura vale a pena...
PRONUNCIAMENTO DO SENADOR JOSÉ SERRA NA TRIBUNA DO SENADO
(04/03/2015)
É
evidente, como dizia o Primeiro-Ministro inglês Winston Churchill, que a
política requer pelo menos duas habilidades. Primeiro a de prever o que
vai acontecer amanhã, na semana que vem e no ano seguinte. Todo
político tem que fazer isso. A segunda habilidade é que é preciso
explicar depois por que as previsões não se cumpriram.
Nisso
eu diria que todos os países, todos os partidos são iguais. Mas o
Brasil da era do PT, indiscutivelmente, tem sido mais igual do que os
outros, para lembrar aquela fábula de George Orwell. Todos são iguais,
mas alguns são mais iguais do que os outros.
Realmente,
há um abismo que, para mim, independentemente de conotação partidária, é
angustiante, entre o que o atual Governo prevê e a sua capacidade de
explicar por que as coisas não acontecem. O que eu vou tentar fazer
agora é pelo menos explicar como e por que outras coisas têm acontecido.
Estamos
diante de uma crise econômica de grande tamanho. Não me lembro de uma
crise tão acentuada e tão difícil quanto esta na economia brasileira.
Incluam aí os anos do João Goulart e os anos do governo Collor, que
recebeu a herança de 90% ao mês de inflação. . A meu ver, a situação
hoje é mais difícil. Há menor raio de manobra pela frente, por incrível
que pareça.
As
dificuldades vêm do segundo período do Presidente Lula. Foi nessa época
que, de alguma maneira, foi posto ovo da serpente da crise. E olhem que
a economia brasileira, na década passada, desfrutou de uma situação de
bonança externa como não houve no século XX inteiro e nem no começo
deste século. Basta dar um número muito simples, senador Anastasia: de
2003 a 2008, o Governo Lula teve US$100 bilhões a mais por conta da
melhora das relações de troca da economia.
Ou
seja, só pelo aumento do preço das nossas exportações, deflacionado
pelo aumento do preço das nossas importações, o País teve de vantagem,
US$100 bilhões. Não há ninguém na nossa história que tenha tido tanta
sorte quanto o Presidente Lula no seu governo. .E esse prêmio foi um
dado inteiramente exógeno. Não dependeu de nenhuma ação brasileira. Foi o
resto do mundo que determinou.
Mas
apesar dessa bonança, tivemos fatos inacreditáveis, olhando hoje em
perspectiva. Numa situação de bonança externa, a última variável que tem
que subir em termos reais são os juros. Mas o Governo Lula cometeu a
façanha de fazer uma política de elevação de juros, apesar da abundância
de dinheiro externo.
Em
geral, governos procuram subir juros quando tem escassez de divisas e
precisam atrair dinheiro. Tratam de criar um diferencial entre a taxa
doméstica de juros e a taxa internacional. Mas naquela época, nós
estávamos nadando em divisas, não era necessário subir os juros. Mas
isso foi feito.
Basta
dizer que no ano da crise mundial, em janeiro de 2008, o diferencial de
juros domésticos brasileiros a taxa do Banco Central e a do Federal
Reserve era, nada mais, nada menos, de 7%. Ou seja, o capital vindo de
fora aqui podia desfrutar de uma remuneração adicional de 7%. Uma
fortuna, está certo Senador Agripino? Uma fortuna!
Muito
bem, quando o Lehman Brothers estourou, sabem qual era a diferença? Já
havia a crise mundial! Sabem qual era a diferença? De 11,75%, Senador
Aloysio Nunes. Um sujeito, nos Estados Unidos, tem uma poupança de mil
vai ao banco e aplica cem nesse país estranho que é capaz de lhe pagar
quase 12% a mais do que ele receberia nos Estados Unidos.
O
que aconteceu depois do estouro do Lehman? Todos os países jogaram os
juros no chão, todos menos o Brasil. Ficamos cinco meses sem mexer nos
juros. Cinco meses! Com todo mundo jogando os juros para baixo, até
taxas negativas, no mundo inteiro, para proteção contra a crise.
Pois
bem, no final de 2009, a nossa diferença com o exterior, em matéria de
diferencial de juros, ainda era de 8,5%, isso no comemoradíssimo segundo
governo Lula. Oito e meio por cento!
Se
isso não é política pró-capital financeiro, eu não sei o que pode ser
política mais favorável para o capital financeiro. Realmente, se isso é
política de um partido de esquerda, eu acho que vivo em um outro
planeta, como o Senador Aloysio, como o Senador Agripino.
Qual foi a consequência? Os preços de commodities, das
nossas matérias-primas, para cima, mais o afluxo de capitais que vinham
curtir os juros siderais, inundaram a economia brasileira de dólares e
isso levou o real para cima, ou seja, sobrevalorizou ainda mais a taxa
de câmbio.
O
que aconteceu? O preço das importações foi para baixo; as importações
industriais passaram a crescer aceleradamente. Mas não é aquela
importação que muitos gostam de dizer: Não, é para modernizar a
economia, a competitividade.
Coisa
nenhuma! Produtos de consumo para substituir a produção doméstica de
bens de consumo. Paralelamente, nossas exportações industriais
tornaram-se mais caras, perdendo competitividade. Esse foi o golpe de
morte na industrialização brasileira. Basta dizer que nós chegamos, em
matéria de participação da indústria no PIB, ao nível do pós-guerra, de
1946, de 1947.
O
Brasil se desindustrializou sob o ímpeto dessa política,
paradoxalmente, comandada, não digo nem que conscientemente, por um
ex-operário industrial. Ele comandou a desindustrialização brasileira.
O
que aconteceu mais? O déficit em conta corrente do balanço de
pagamentos, que é a conta principal do Brasil com o exterior, começou a
crescer rapidamente. Nós tínhamos superávit em 2005 e chegamos a um
déficit que, hoje, caminha para os 5%. E, aí, não tem conversa: quando o
déficit de conta corrente está nesse nível, a economia está em perigo
em relação ao resto do mundo e começa a ficar de joelhos, que é o que
acontece com a economia brasileira hoje.
Mais
ainda, a carga tributária, no governo daquele período, foi para as
nuvens a gente sempre acha que chegou no alto das nuvens, mas, na
verdade, sempre acaba aumentando mais, como se está fazendo agora e
houve uma política anticíclica curiosa: ao invés de ela estar centrada
na redução de juros porque, quando se tem uma crise, procura-se
incentivar a atividade econômica , ela esteve no aumento do gasto
público, mas não com investimentos, com custeio, e de maneira
permanente.
Naquela
época, dizia-se que eu ia ser candidato a Presidente e me lembro que um
dos motes era: Precisamos dar todos os reajustes antes de o Serra
chegar, porque ele vai arrochar o funcionalismo. Aí, o que aconteceu
foi que se botou fogo nos reajustes dos altos setores do funcionalismo,
criando uma rigidez fiscal imensa, que também foi herança do governo
Lula/Dilma para o Governo Dilma.
Portanto,
nós tivemos câmbio megavalorizado, déficit em conta-corrente crescendo,
aumento da rigidez fiscal tudo isso até 2010.
Por
outro lado, não houve, nesse período, expansão significativa de
investimento em infraestrutura. Eu não sei se os colegas sabem, mas o
Brasil, na época, era dos cinco países do mundo que menos investiam em
infraestrutura. Na verdade, era o penúltimo, como proporção do Produto
Interno Bruto. Não se investiu nada em infraestrutura.
Na prática, o que aconteceu foi que o Brasil torrou o dinheiro que ganhou com o boom do
comércio exterior e com a entrada de capital estrangeiro. Nós torramos
em consumo, consumo que substituiu a produção industrial doméstica,
consumo de turismo externo área em que o Brasil passou a ser um dos
campeões mundiais à custa do turismo interno, evidentemente muito mais
caro, dada a sobrevalorização da moeda. Com a desindustrialização em
plena marcha.
Pois
bem, nesse auge do ciclo a economia não aguentava mais é que
ocorreu a eleição de 2010, com os salários crescendo 5, 10% reais em
cada mês, comparativamente ao mesmo mês do ano anterior emprego,
consumo, todos os indicadores favoráveis a um bom desempenho no processo
eleitoral , embora estivesse claro que a economia bateria logo com a
cara na parede rapidamente.
Foi
à época, inclusive nessa campanha, em que se vendeu já se vinha
vendendo de antes, mas, como nunca aquela filosofia ao povo brasileiro
na linha do: Emagreça comendo; faça ginástica deitado; aprenda inglês
dormindo. Economia? É uma clara de ovo: a gente vai batendo com o
garfo, e vai crescendo milagrosamente.
Como
as coisas, na realidade, não são assim, o preço que o Governo petista
seguinte pagou foi e é altíssimo! Mas não coloquem, aqui, a Presidente
Dilma como inocente nessa história, porque ela foi a Ministra
todo-poderosa do segundo mandato do Presidente Lula!
No Governo Dilma, nós tivemos a política que, em espanhol, se classificaria melhor más de lo mismo mais
da mesma coisa, com a situação estrutural da economia e do mundo
completamente diferente, porque era óbvio que os preços decommodities não
poderiam continuar se sustentando naquela alta; era óbvio que o gasto
público já não tinha mais raio de manobra; enfim, já era óbvio que
aqueles fatores que permitiram a expansão anterior estavam esgotados.
E
olhe que o Governo Dilma teve uma colher não foi colher , uma concha
de chá da oposição! Porque não poucos opositores respeitáveis viam a
possibilidade de cindir o PT, entre o lado bom, que seria Dilma, e o
lado mau, que seria Lula. Então, a Dilma teve, também, uma colher de chá
da oposição, uma oposição pouco veemente para o desgoverno que já
caracterizava o seu primeiro período de administração.
Mas
o Governo foi fraco, principalmente, diante dos desafios que se lhe
apresentavam. Afinal de contas, Governo existe para antecipar os
acontecimentos; se não antecipa acontecimentos... Função de Governo é
antecipar acontecimentos. Função de Governo é saber administrar, é
administrar direito! Mas nós tivemos um reino da inépcia administrativa
como nunca houve no Brasil, o que já é muito a dizer! Nós temos um
verdadeiro campeonato nessa matéria, nos dias atuais!
Aliás,
peguem, por exemplo, a Prefeitura da cidade de São Paulo e o Governo
Federal quem é mais inepto? Dá para fazer um concurso! Pela internet,
pela televisão, para identificar onde reside, onde a incapacidade mais
se concentra nos dias de hoje. E como dizia um gênio nosso, de quem
sempre fui um grande admirador, Millôr Fernandes:
O
grande erro da natureza é a incompetência não doer. Essa, aliás, é uma
das antileis do PT, a incompetência não dói. Para a maioria dói, para
eles não parece doer. Essa é que é a verdade.
Agora,
mais ainda, o Governo, não foi apenas só inepto do ponto de vista
administrativo, mas também não soube fazer planejamento. Ação do Governo
tem que ser planejada. É um paradoxo, tem-se um partido de esquerda no
poder, planejamento é o que menos houve também. Vai-se segundo a onda.
Vai-se segundo o momento. Não se enxerga não se procura enxergar os
momentos seguintes, não se entende o que aconteceu para trás.
Não
se fez uma coisa que era, na verdade, a grande saída, que era acelerar
os investimentos em infraestrutura. Naquela época, havia toda a condição
para isso, inclusive os juros não eram tão altos quanto são hoje, por
exemplo, e isso é essencial para poder atrair parceria privada, em
concessões ou em parcerias público-privadas, mas o investimento em
infraestrutura continuou lá embaixo. Por um misto, insisto, de inépcia e
também de ideologia, e também da ideia de que é possível regular o
lucro dos capitalistas. Quem já fez concessões de estradas, como nós
fizemos, sabe que o Governo sempre faz um cálculo, mais ou menos, de
qual vai ser a taxa interna de retorno do investidor. E, na verdade, os
parâmetros da concorrência são postos dessa maneira. Agora, se quem
ganhar chegar lá e souber descobrir oportunidades novas, sorte dele.
Isso é o que vai incentivar investimentos privados.
Eu
tenho uma experiência que vivi com o nosso Senador e então chefe da
Casa Civil, Aloysio Nunes. Nós construímos o trecho sul do Rodoanel.
Pusemos em licitação para concessão, o trecho sul que concluímos, e o
trecho leste, que não existia. Qual era o preço para ganhar a licitação?
Era construir o trecho leste. E trecho leste veio a ser construído.
Custou 3,6 bilhões custo zero para o Estado, zero. Vocês imaginam o que
podia ter sido feito na esfera federal, meu Deus do céu! Mas eu fiquei
curioso, porque eu achava, no início, que os ganhadores da licitação não
iam conseguir dar conta, porque eles reduziram muito os preços na hora
da concorrência. E no final deu certo. E eu perguntei a eles: Por que
deu certo?. Eu achava que não ia dar. Vocês sabem que eu sempre sou
pessimista no diagnóstico e otimista na ação, mas se quiser pessimismo
no diagnóstico eu estou sempre presente. Fiquei surpreso com o sucesso.
Eles disseram o seguinte: Vocês tinham posto de desapropriação 1
bilhão, que é o que custaria, ninguém superestimou. Mas nós gastamos
muito menos do que isso. Eles gastaram de fato em torno de 200, 250
milhões. Por quê? Porque a área privada desapropriou com mais
facilidade, com menor custo. Sorte deles. Nós ganhamos um Rodoanel de
3,6 bilhões, Cristovam Buarque, de graça, de graça! Vocês imaginam o que
poderia ter sido feito na área federal, mas não foi feito. Ou seja,
deixou-se de lado uma estratégia que podia puxar o crescimento do PIB e o
aumento de produtividade da economia.
O
investimento em infraestrutura tem esse caráter dual: ele gera emprego,
porque gera emprego direto, além da demanda de insumos, bens de
capital, etc. Ou seja, gera crescimento produtivo e, ao mesmo tempo,
aumento de produtividade, porque reduzem-se os custos, o chamado Custo
Brasil, que é da ordem de 25%. E vocês sabem que hoje uma mercadoria
brasileira, comparativamente à média dos parceiros comerciais do Brasil,
custa 25% a mais? Se pegarmos um software, tirarmos o custo indireto das mercadorias estrangeiras e aplicarmos o brasileiro, dará 25% a mais.
Esse
é o Custo Brasil, que se soma aos problemas de câmbio, o que liquida a
competitividade da economia brasileira. Isso depende de investimento em
infraestrutura e, entre outras coisas também, da carga tributária e dos
custos financeiros.
E
mais ainda, instaurou-se era das alucinações. Eu tenho três exemplos de
alucinações para lembrar aqui: uma foi a do trem-bala. Senador Tasso,
programou-se um trem de passageiros, sem curvas, para ir de São Paulo ao
Rio de Janeiro, sem demanda. Mandamos fazer um estudo na PUC do Rio de
Janeiro, e não havia demanda só para transportar passageiros, com
custo de poder de compra atual de R$85 bilhões, e não poderia nem
transportar carga.
No
final, o Governo estava tão desesperado para conseguir empreiteiras
para participar, porque ninguém queria, que não só ofereceu crédito
subsidiado, como se dispôs a bancar, José Agripino, o déficit, caso não
houvesse número de passageiros suficientes. Nesse trem-bala já gastaram
algumas centenas de milhões de reais. Aliás, se o Governo quisesse ter
um choque de credibilidade, a Presidente deveria ir à televisão e dizer
que abandonou o trem-bala isso melhoraria ou, pelo menos, impediria
que a sua popularidade, a queda de sua popularidade, seguisse o ritmo
que está seguindo.
A
segunda alucinação foi a da energia elétrica, que é o que chamo de um
bom erro. O que é um bom erro? Um bom erroé aquele que é cometido sem
necessidade; segundo, que é irreversível; terceiro, que tem custos
altos.
Com
a energia elétrica foi assim. É um setor fácil? Não, mas, de repente,
veio uma medida provisória que só complicou a vida e que pressupunha que
a CESP e a Cemig iriam abaixar a tarifa para obter a renovação de suas
concessões. Elas disseram que não, porque os governos estaduais teriam
de colocar dinheiro e o plano fracassou. Resultado: acumularam-se
desequilíbrios que, agora, têm que ser corrigidos. Essa foi é uma
segunda alucinação.
Outra
alucinação fenomenal é a do plebiscito sobre reforma política vocês
lembram! , como resposta às manifestações do povo nas ruas, em meados
de 2013. Não havia uma tradução política clara do que essas
manifestações significavam. E, com o povo nas ruas, a Presidente vai à
televisão e propõe um plebiscito para a reforma política, inclusive sem
especificar o que era direito, só com referência a aspectos sobre
financiamento de campanha, no meio daquela confusão.
Pode
não se ter percebido, mas isso contribuiu, de maneira decisiva, para a
população desenvolver descrédito com relação a quem está no comando. Foi
um anúncio, inclusive, ininteligível, situado no plano, como eu dizia,
das alucinações.
Agora,
houve medidas até, eu diria, generosas, bem-intencionadas, como é o
caso das desonerações, cujo custo fiscal, tributário, é da ordem de
R$100 bilhões. Imaginava-se com isso que se iria reativar o investimento
industrial. Olha, quando se fala de queda de investimento no Brasil,
tem que se qualificar.
O
que caiu mesmo infraestrutura não tinha subido , o que caiu mesmo
foi indústria. A economia brasileira está na situação de estagnação
agora, por causa de indústria. E essa coisa de que o País pode-se
desenvolver sem indústria, etc., é trololó de economista desocupado, que
quer épater les bourgeois, quer impressionar.
Não
há nenhum país do mundo que esteja se desenvolvendo bem, países
emergentes, em que a indústria não esteja comandando. Basta pegar os
dados isso é claríssimo! Essa história de que a indústria já foi é
coisa da Inglaterra, de países ultradesenvolvidos, com uma renda por
habitante três ou quatro vezes maior do que a brasileira. Não tem nada a
ver com nosso País.
Agora,
na prática, por que na indústria não se investe? Por que não há
dinheiro? Não! É outro mito; dizer que no Brasil não se investe por
falta de poupança é conversa.
Além
do mais, quero ver qual é o político que vai chegar a uma campanha e
dizer para a população: Vocês têm que poupar mais, não consumam etc.
Não há o menor cabimento.
Há
um fundo chamado Fundo Verde, que tem US$30 bilhões para investir. Se
houvessem oportunidades rentáveis de investimento na indústria, vocês
não tenham dúvida de que o dono desse fundo, que é sujeito mais esperto e
preparado que conheço na área de investimentos, estaria canalizando
dinheiro para isso. Não falta poupança; o que falta é oportunidade
rentável de investimentos. Se o investimento de boa qualidade crescer, a
poupança crescerá junto.
Então,
pode fazer a desoneração, só que os industriais não investem, porque
não querem perder dinheiro. Essa que é a realidade. Por isso é que a
medida fracassou.
Agora,
sem falar aqui não quero me alongar, de forma nenhuma nas outras
áreas, da educação, da saúde ou relacionadas com outras questões
sociais, como no caso das drogas. Eu sei que há muita polêmica sobre
legalizar-se ou não legalizar-se a droga, mas quanto a uma coisa todos
hão de convir: droga faz mal! E, se droga faz mal, como o cigarro,
devia-se fazer uma campanha educativa para o pessoal não consumir droga,
mostrando-se os males que traz.
Nós
mostramos isso no caso do cigarro e conseguimos quebrar a perna do
consumo de tabaco no Brasil, mas o Governo cultiva a ideia, talvez
implícita, de que droga é coisa de moderninhos. A secretária nacional de
políticas sobre drogas falou que não há epidemia de crack no
Brasil, o que prova que ela está por fora. E permanece a inércia do
Governo diante de um programa que seria banal, do ponto de vista de
custos insisto, como fizemos com o cigarro.
No
caso da saúde, já falei bastante, já escrevi bastante. Basta uma
síntese: o Governo Federal, que cobria 52% dos gastos públicos em saúde,
recuou para 44%, jogando nas costas de Estados e Municípios o grosso do
peso remanescente, sem que eles tenham condição de enfrentar essa
situação.
A
situação da saúde é calamitosa. Só para lembrar, no último ano do
governo Fernando Henrique, pesquisa do Ibope mostrou que 60% da
população brasileira apoiava a política de saúde vivíamos em outro
mundo. Porque a saúde já estava boa? Não! Porque viram mudanças em
andamento, tinham boas expectativas.
A
proporção do apoio, no ano passado era de apenas 20%. E saúde passou a
ter 46% dos brasileiros considerando-a o principal problema do País. Na
época do Fernando Henrique, era 6%. Não porque, insisto, não houvesse
problema de saúde, mas porque havia uma política coerente sendo levada a
cabo.
E
na educação? Na educação Cristovam, perdoe-me aqui por entrar na sua
área, mas isso é coisa até para conversarmos paralelamente , menciono
quatro iniciativas que não prestaram atenção, de fato, àquilo que se
estava fazendo: o Fies, que virou um escândalo, estatizou-se o
financiamento do ensino privado sem qualquer tipo de critério - agora,
descobrimos isso. Foram R$13, R$14 bilhões por ano uma coisa absurda!
de mais da metade, folgadamente, dos alunos financiados pela Caixa
Econômica, o que, na verdade, virou um bônus para o ensino superior
privado sem qualquer espécie de controle de qualidade e aberto à toda
sorte de espertezas.
Houve
o tal do Ciência sem Fronteiras, um programa estritamente de
marquetagem. Não preciso mostrar aqui as vicissitudes de alunos que
chegam a Toronto, sem falar uma palavra de inglês, para fazer um curso
de especialização, em que supõem que dominem o inglês.
E
houve o Pronatec, que, na verdade, foi uma ideia nossa da campanha de
2010, que pegaram, para aproveitar, e que virou também um programa
eminentemente para produzir números, sem qualquer controle de qualidade,
controle de custos e, agora, sofrendo os problemas do atraso de
pagamentos.
Foram
adotadas algumas medidas que, em si, poderiam ser boas, mas que ficaram
por conta dos governos estaduais e municipais: o piso nacional de
professores na época, o Ministro Haddad prometeu que o Governo Federal
pagaria, e não pagou e a hora-atividade, que é a hora não trabalhada,
supostamente para preparação de aulas, que, no Brasil, dependia dos
Estados e dos Municípios. Pois não é que o Governo Federal fixou o piso
mínimo agora de 25%? Em São Paulo, por exemplo, essas horas-atividade em
que eram de 20%, passaram para 25%. Centenas de prefeituras tendo de
contratar, inclusive, mais professores por causa dessa medida.
Assim,
professor de 40 horas dá 30 horas de aula; dez horas para preparar a
aula. E isso aumenta o custo. Quem paga? Estados e Municípios.
Por
último, eu quero dizer que o Governo Dilma, na questão econômica e
isso já aparece no caso da energia elétrica , na verdade, forçou o
aprofundamento dos desequilíbrios que recebeu, por exemplo, no caso do
arrocho do preço dos derivados de petróleo, que já havia em 2010; só se
aprofundou. A energia elétrica já mencionei.
E, no caso dos transportes urbanos, forçou prefeituras a não darem reajustes, ou seja, aumentou o tamanho do desequilíbrio.
Por
cima, o governo Dilma ainda pegou três fenômenos exógenos, dois dos
quais, estritamente, não se pode dizer que tenha culpa: a seca, com os
seus efeitos fatais sobre a energia elétrica, principalmente; a queda
dos preços internacionais do petróleo, que eliminou a competitividade de
boa parte da exploração do potencial de petróleo no Brasil, porque o
preço caiu pela metade; e ainda o Petrolão a minha tese é de que,
mesmo sem esse Petrolão, a Petrobras estaria vivendo uma crise parecida
com a que está vivendo hoje. Preciso ter isso claro.
Basta
dizer que ela aumentou o seu endividamento, Tasso, com relação ao fluxo
de caixa, em quatro vezes! O estoque da dívida, dividido pelo fluxo de
caixa, aumentou quatro vezes devido a planos megalomaníacos, inclusive o
tal do como é que chama? método da partilha, e isso me foi dito,
inclusive, por gente que estava do outro lado, depois da campanha, que
foi criado como instrumento eleitoral, porque o método de concessões,
que estava funcionando bem, não se prestava a polarizar o processo
eleitoral. Já a ideia da partilha poderia polarizar, devido ao mito de
que isso representaria ampliar a produção sob controle nacional.
Obrigou-se a Petrobras a entrar em cada poço. E ela não tinha capacidade
administrativa nem financeira para isso.
Fazer
dívida que é quatro vezes o fluxo de caixa é uma temeridade, sem falar
da expansão descontrolada. Cristovam, são 300 mil funcionários da
Petrobras terceirizados, mais cento e tantos mil empregados diretamente.
É uma coisa imanejável imanejável!
Outro
dia, eu dei uma entrevista, dizendo que é preciso enxugar a Petrobras
para salvá-la, e falo isso com autoridade de quem batalhou no passado
pela Petrobras, inclusive numa perspectiva bem estatizante. Eu fui,
isoladamente, o principal defensor da encampação das refinarias privadas
em 1964, para que o sistema fosse totalmente estatizado. Então, tenho
alguma autoridade para falar em defesa da Petrobras. Quer dizer, é
preciso que a Petrobras seja enxugada e possa ser fortalecida naquilo
que ela tem de mais vantajoso, do ponto de vista comparativo, e de mais
eficiente, que é a prospecção e a exploração de petróleo.
Eu
vi outro dia que a Petrobras produz fio têxtil em Pernambuco. Nada
contra produzir fio têxtil em Pernambuco. Mas a Petrobras fazendo isso?
Tendo essa diversidade de atividades?
Realmente,
agora seria uma excelente oportunidade, inclusive, para o Governo
ganhar credibilidade, de haver um plano para a Petrobras. Esse plano foi
atrasado dois ou três meses por uma insistência infantil da Presidente
da República de manter a Diretoria anterior. Não estou nem dizendo que a
ex-Presidente Graça Foster estivesse ou não por trás daquilo que
aconteceu, mas era óbvio que precisava mudar o time; não é problema de
culpabilidade; é preciso haver uma imagem nova, uma energia nova.
Pois
bem, eu dizia: em cima desse quadro de dificuldades, há esses fatores
exógenos. E chega-se à época do ajuste. O fato é que o Governo Dilma
aumentou o tamanho e a dor do ajuste que deveria ser feito.
Nós
temos hoje pela frente, neste ano, estagnação, desemprego, quedas de
salário, inflação teimosa, aperto externo e juros siderais. Em cima
disso, quer-se aumentar os juros, cortar gastos, eliminar benefícios
sociais; tudo em cima. O ajuste vai aprofundar o desajuste, Raul Jungman
vai aprofundar o desajuste! , é uma questão de tempo.
Achar
que ajuste traz desenvolvimento é um engano. Ajuste é um período
transitório que deve conter, nas medidas que o acompanham, propostas de
médio e de longo prazo. É conversa de economista achar que faz ajuste,
aumenta imposto, corta gasto, aumenta juro, faz isso, faz aquilo, que a
economia sai crescendo.
Olhem
o que está acontecendo na União Europeia. Com muita clareza, está há
cinco anos fazendo sacrifícios, que não satisfazem. O mercado financeiro
é implacável nisso, nunca se dá por satisfeito.
Nós
temos que ter uma proposta que, junto com algum ajuste que deve haver,
traga consigo perspectivas para o médio e longo prazo na economia.
Eu não sou o autor original, mas há, inclusive, uma denominação para essa mania: autotelia,
que ocorre quando se faz uma coisa, só pelo fato de que se tem que se
fazer a coisa. Com o aumento de juros, é o que acontece no Brasil.
Aliás,
a respeito dos juros, basta dar um dado, um dado bastante sintético. Se
hoje se materializar a previsão do mercado financeiro, que não erra
uma, que a SELIC suba mais meio ponto percentual, a taxa de juros terá
aumentado 1,75% nesse ciclo de ajuste. Sabe quanto custa isso por ano?
Isso custa R$27 bilhões!
Senador
Fernando Bezerra, sabe que proporção esses R$ 27 bilhões representam do
ajuste pretendido, no primário? Quarenta por cento. É incrível isso! Ou
seja, só de aumento de gastos em juros, Senador Cássio Cunha Lima, nós
vamos devorar 40% da meta do superávit primário. É uma coisa louca!
Isso
no Brasil, em geral, fica oculto, porque há, eu diria, uma depravação
da linguagem. . Todo mundo agora fala em primário Porque o primário
é isto, porque o primário é aquilo.... O primário é um conceito
contábil, não tem existência real. O que tem existência real é o déficit
público, o déficit nominal agregado. No déficit entra o cálculo dos
juros, no primário não entra muito espertamente para o sistema
financeiro, esse é o que ficou prevalecendo. Ninguém fala dos juros, que
já passam dos 6% do PIB, que já chegam a quase R$300 bilhões por ano.
Você vai me dizer: Não, mas tem que ter juros, austeridade. Eu me
pergunto se tem que ter sempre o juro campeão do mundo e sempre ficar
ampliando a diferença com relação ao resto do mundo.
O
fato é que temos aí círculos viciosos: a estagnação ou a recessão
diminuem a receita, e a diminuição da receita leva à tentativa de
aumentar a receita; o desemprego diminui a demanda, e a diminuição da
demanda diminui o emprego. Estamos prisioneiros desse círculo vicioso, e
a economia brasileira está literalmente de joelhos hoje no contexto
mundial. Não precisava! Com tudo o que nós tivemos na década passada,
não precisava ter sido assim. Realmente jogou-se um prêmio fora, foi-se
ao vaso sanitário, jogou-se um bilhete premiado e puxou-se a descarga.
Não precisava ter sido assim! Realmente não precisava!
Muita
gente fala do passado e eu fui um dos críticos do Governo Geisel,
durante o qual houve um acelerado endividamento externo, com déficit em
conta corrente altíssimo. Mas, pelo menos, esse dinheiro foi para
investimento. Pode-se discutir se essa marcha forçada trouxe grandes
desequilíbrios, mas o fato é que o endividamento externo não foi, como
agora, para o consumo, para a substituição pela produção doméstica por
importações ou o turismo interno pelo externo.
Agora, e a qualidade em si do ajuste? Acho que ele está sendo feito com relativamente pouca imaginação.
Vou
dar um exemplo. O que o Governo deveria ter começado a fazer para
efeito de corte era rever todos os contratos. O Aloysio Nunes, que me
acompanhou na prefeitura, no governo do Estado e acompanhou o Governo
Montoro, sabe que nós fizemos isso com tremendo sucesso. Todos os
contratos tiveram de ser revisados. Isso não significa descumprir
contratos. É só passar para os empresários: Olha, vocês vão ter que
baixar 5% a 10%, porque está todo mundo aqui perdendo. Vocês vão ter que
dar a sua parte, senão correm o risco de não podermos renovar ou de
interromper o contrato. Ora, num país cujos gastos chamados
discricionários são da ordem de R$250 bilhões, 10% disso são R$25
bilhões, 5% são R$12,5 bilhões.
Dez
bilhões se conseguem com os pés nas costas. Isso dá trabalho,
evidentemente, requer experiência, mas é muito menos doloroso do que
outros tipos de cortes, que, na verdade, vão pegar gente de muito baixa
renda, que está vivendo daquilo. É preciso enxergar as coisas que estão
sendo feitas.
Agora, por outro lado estou convencido , faltam as questões de longo prazo.
Eu
vou dar um exemplo: exportações. Na verdade, a atual desvalorização do
câmbio pelo menos para isso serve, mas não vai ter efeito significativo
no curto prazo. Vai ter alguma melhora, mas demora anos conquistar
mercados externos.
Mas o Brasil tem tido uma política externa com viés antiexportações.
Meus
colegas, o Senador Aloysio vai presidir a CRE. Eu faço um chamado a ele
e ao Presidente Renan, que não está aqui, para que ele tenha ousadias
como a que teve ontem com relação às medidas provisórias, em matéria de
política externa. Nós temos este Senado, esta Legislatura que
revogar o Tratado do Mercosul tal como ele está posto hoje.
O
Mercosul foi um delírio megalomaníaco, e olha que atravessou vários
governos, que pretendeu promover uma união alfandegária entre Argentina,
Brasil, Uruguai e Paraguai. Sabe o que é uma união alfandegária? É uma
renúncia à soberania da política comercial.
Quando
eu era Ministro da Saúde, fui à Índia para abrir o mercado brasileiro
para os indianos, que vendem muito barato na época os genéricos aqui
estavam sendo boicotados. Era uma abertura. Eu propus ao governo: vamos
fazer um acordo para eles facilitarem a exportação de ônibus, avião e
caminhão do Brasil? Mas não dava para fazer. Sabem por quê? Porque tinha
que levar o Paraguai, o Uruguai e a Argentina juntos, eles perguntando:
O que eu levo nisso?
O
Mercosul paralisou a política de comércio exterior brasileira. . Houve
no mundo mais de 400 acordos de livre comércio. Sabem quanto o Brasil
fez? Três!. Fez um com Israel e, para não ficar mal, com a Palestina e
outro com Egito. Vocês acham que tem cabimento?
Mais
ainda, Senador Agripino, V. Exª que se preocupa muito com as questões
na área externa, leve em conta o seguinte: na OMC, o Brasil está
defendendo o multilateralismo comercial. Multilateralismo é contra
acordos bilaterais. Nem a Inglaterra e os Estados Unidos, que são
tradicionalmente os grandes ortodoxos em matéria de livre comércio,
estão defendendo isso. O Brasil está, isoladamente, Senador Cristovam
Buarque, defendendo a posição hoje mais ortodoxa e reacionária em
matéria de comércio internacional. Isso só tem uma vantagem: exime o
Itamaraty de trabalhar opa, para o Ministério do Desenvolvimento e
para o Itamaraty, é uma folga, porque fazer acordos bilaterais de
comércio dá muito trabalho.
Então,
nós temos que reduzir o Mercosul àquilo que era o mais importante e que
ele não é ainda, que é uma zona de livre comércio.
O
pessoal às vezes fica aqui atacando a Cristina Kirchner, atacando
porque não cumpre o acordo com o Mercosul. Eu acho que os argentinos
devem fazer o que bem entenderem com a sua política comercial para o
resto do mundo. Nós é que estamos insistindo em uma coisa que é
inviável. Nós temos simplesmente que desfazer esse entendimento. O
Mercosul tem que mudar.
Agora
imaginem com a entrada de Venezuela e Bolívia, que também vão ter de
estar de acordo com cada medida que for tomada em matéria de comércio
com o resto do mundo? Se a gente abrir um mercado determinado, é preciso
levá-los também. E perguntarão: O que é que nós ganhamos nisso É uma
coisa louca!
Eu
me lembro de que, quando estava no Ministério da Saúde, fiquei
preocupado porque ia haver uma desvalorização da moeda. Antes que
houvesse eu já sabia que ia haver e isso oneraria os custos da saúde
enormemente , conseguimos desonerar as importações de insumos de saúde,
entre elas a do marcapasso. E aí protestou o Uruguai, que vendia 500
marcapassos para o Brasil, o que evidentemente fruto de alguma
triangulação comercial, porque o Uruguai, com todo o respeito, não deve
ser produtor de marcapassos. Eles vieram protestar porque nós estávamos
zerando a importação da alíquota de marcapasso e o iam perder a vantagem
relativa. E o Itamaraty ainda veio falar comigo como se fosse para
levar a sério essa reclamação. Não levamos isso a sério e não aconteceu
nada. Quero dizer que tivemos a cobertura do Presidente Fernando
Henrique, que era suficientemente inteligente e preparado para entender a
natureza do problema.
O
Senado que tem de agir. O Mercosul é um palco para exibição da ideia de
que a Presidente está trabalhando. . Para nada! Não vou aqui reproduzir
a poesia do Ascenso Ferreira, que tem um viés regionalista, mas para
que tanta onda? Para nada! Essa é que é a verdade.
Outro
ponto diz respeito às concessões de infraestrutura. Eu ouvi outro dia
aqui o Líder do PMDB, o prócer do PMDB, Senador Jucá, dizer algo correto
sobre a questão das concessões de serviços públicos.Sua preocupação com
a falta de opções nessa área. Preocupação que se justifica mais do que
nunca, pois concessão depende de taxa de juros.
Eu,
quando era Governador de São Paulo, nas reuniões da Febraban em que
estava o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles presente,
eu sempre dizia que tínhamos que segurar os juros. Por quê? Entre
outras coisas por causa dos das concessões de serviços públicos e das
parcerias público-privadas.
Essa
é uma área de que temos que cuidar. Como é que nós vamos criar
condições financeiras para que as concessões e parcerias
público-privadas possam prosseguir no Brasil? Trata-se do interesse
coletivo e do desenvolvimento do país. O Governo devia estar preocupado
com isso nesse contexto mesmo do ajuste.
Por
último, só para dar um exemplo, há a questão da Petrobras, que precisa
ter um modelo esboçado. Eu falei de composições com a área privada. O
presidente atual da Petrobras, quando no Banco do Brasil, fez duas
privatizações, ou deu sequência a elas: na área de seguros e na área de
cartão de crédito. O Banco do Brasil, embora majoritário no controle das
ações preferenciais, não tem o controle da gestão, não tem maioria nas
ações que dão direito a voto, mas vem ganhando muito dinheiro.
A Petrobras tem n atividades. Cada uma deve virar uma empresa, dentro de uma holding. Vamos fortalecer prospecção e extração, e vamos diversificar o resto. O Governo tinha que estar apontando nessa direção.
Mesmo
no contexto de um ajuste fiscal, nós tínhamos que estar indo adiante,
mostrando um caminho para o futuro e a preocupação essencial com a
reindustrialização do Brasil. Esse é o grande desafio que nós temos pela
frente, porque, sem essa indústria, nós vamos passar a ser
sócios-atletas do clube dos países atrasados, não dos emergentes, dos
países que vão viver na linha dágua, respirando e se afogando a cada
ciclo da história econômica mundial. E nós temos a obrigação, aqui do
Senado, de dar uma contribuição importante, não apenas no debate, mas,
inclusive, mediante iniciativas legislativas.
Queria
agradecer do fundo do coração, o reconhecimento e, sobretudo, o
incentivo que cada um dos Senadores que usou da palavra me trouxe neste
momento, um incentivo para que trabalhemos juntos.
Eu
quero dizer algo a partir do que o Senador Aécio Neves disse: que
tenhamos aqui no Senado debates em torno da verdade. É evidente que as
verdades podem ser diferentes, dependendo de cada Senador, de cada
setor, mas elas têm que ser o norte do nosso debate. Uma das coisas que
tem levado o Brasil à perdição é a divisão entre verdade e mentira,
entre os bons e os maus; isso veda a discussão, isso fecha a nossa
pauta. Uma das coisas que mais me aflige no Brasil de hoje é exatamente a
impossibilidade de se tratarem diferentes temas que não sejam sempre
pela ótica do demônio e do anjo, do bom e do mau, da verdade e da
mentira.
Eu
acredito que as manifestações dos Senadores reforçam muito essa nossa
perspectiva. Eu agradeço de coração, inclusive as manifestações de
amizade.
Quando
eu falo em acabar com o Mercosul, eu digo acabar com a união
alfandegária do Mercosul, não com a zona de livre comércio. Na
integração econômica, há três etapas. Há a da integração comercial, que é
livre comércio entre os países, uma meta. O Nafta norte-americano, de
México, Canadá e Estados Unidos é uma união de livre comércio. No
Brasil, nós quisemos a Europa demorou 40 anos para fazer a união
alfandegária fazer isso em quatro anos, sem ter uma zona de livre
comércio estabelecida, porque as imperfeições e as barreiras são muitas
ainda. Então, quando eu falo em acabar com o Mercosul, é acabar com esse
Mercosul que está aí e ter um Mercosul mais realista nos seus
objetivos, que não nos amarre institucionalmente. A terceira etapa seria
a da integração econômica completa, que nem a Europa está conseguindo
consolidar.
E
eu quero reiterar que a posição antibilateralismo comercial não se deve
apenas ao Mercosul, mas também à linha do Governo brasileiro, que na,
OMC, defende ortodoxamente o multilateralismo, o que é um absurdo, em
contraposição às tendências de bilateralismo ou regionalismos que
existem no comércio mundial hoje em dia. E nós ficamos com os defensores
da ideologia do laisser-faire em escala internacional comercial, o que é inacreditável.
Uma
segunda questão é a da poupança, que curiosamente o Senador Cristovam
Buarque mencionou. Sabem por que a poupança é baixa hoje? Porque o
Brasil não está crescendo. O que gera poupança é o crescimento. Estão
aqui o Senador Tasso, que é um empresário extremamente bem-sucedido, e
vários outros, como o Senador Blairo Maggi, que sabem o seguinte: quando
há oportunidade rentável de investimento, o dinheiro chega. Eu nunca vi
haver oportunidade rentável sem que isso seja aproveitado, inclusive
pelo capital estrangeiro. Por que não? O bom déficit em conta corrente é aquele que se traduz em investimentos, não para financiar consumo ou turismo. Isso é que não tem cabimento.
Outro
ponto e isto vai nortear e norteia a minha ação política hoje,
inclusive, aqui dentro do Senado é o seguinte: Senador Jucá, nós não
temos dois governos no Brasil: o Governo Dilma e o governo Joaquim Levy.
Não existe isso. Há um só Governo. A meu ver, a Presidente erra quando
quer passar para o País a ideia de que há dois governos. Ela passa essa
ideia quando dá bronca pública ao Ministro, coisa que quem tem o mínimo
de experiência em Executivo sabe que não se faz.
Quando um ministro diz algo inconveniente, em geral, pede-se ao Chefe da Casa Civil ou ao Ministro da Justiça ou fala-se em off diretamente
com o Ministro Secretário para que ele dê um jeito de se desmentir,
de relativizar o que disse. Nada de pito público. Alguém lembra do
presidente Fernando Henrique fazendo isso?
Eu
me lembro de uma vez em que o Senador Aloysio o ministro que coordenava
as relações políticas do governo Fernando Henrique e eu, ministro da
Saúde. Fiz um pronunciamento e dei uma entrevista me criou uma saia
justa com uma apresentadora de TV muito popular, que era sobre a questão
da produção independente de filhos. O Ministro Aloysio me ligou
furioso, mas ninguém soube. Eu até não acatei a sugestão que ele me fez,
mas não é uma coisa que foi a público. Agora, fazer isso com o Ministro
da Fazenda é querer passar para o País que há dois governos. Isso
retira a credibilidade do próprio Governo. É um tiro no pé. A ideia de
que há duas administrações, a do Levy e a da Dilma, enfraquece o Governo
como um todo, porque tira credibilidade da política econômica, que já
tem suficientes problemas, uma vez que ela enfrenta um desequilíbrio
muito grande e comete erros também. E, além do mais, retira-se
credibilidade de quem a está executando. . Isso é inteiramente
impróprio.
Outra
questão, até para encerrar, é referente a um assunto em que não se
tocou aqui: BNDES e transparência orçamentária. Eu quero dizer, com toda
clareza, que eu sou a favor do financiamento do BNDES, com taxa de
juros reais, mas menores, para o investimento a longo prazo.
O
equívoco, a meu ver, do Governo não são esses subsídios. O equívoco é a
falta de transparência e de critérios, porque nós temos que ter
critérios claros e estabelecidos a esse respeito. A própria Constituição
determina, no capítulo que fala da LDO, que a política das instituições
oficiais de crédito seja explicitada junto ao Congresso, coisa que não
vem sendo obedecida e que nós vamos batalhar para que passe a ser a
partir desta Legislatura. Eu tenho certeza de que nós vamos ter o apoio
de todos.
Eu
quero também fazer outro reparo, porque, com muita correção, aponta-se
que o subsídio implícito do BNDES implica gasto fiscal e não está no
Orçamento, critica absolutamente correta. Eu acho que isso tem que
figurar no Orçamento, como têm que figurar também outras coisas, porque
há operações na área monetária que implicam gastos fiscais que não estão
explicitados no Orçamento. E eu não vejo ninguém reclamar. Por exemplo,
as operações de swaps trouxeram prejuízo, no ano passado, de 20 bilhões. Onde isso está registrado?
Todas as operações que são feitas no overnight, chamadas
também de operações compromissadas que, aliás, eu acho que foram
pronunciadas neste plenário do Senado pela primeira vez, em toda a sua
história, pelo Senador Aloysio Nunes, um não economista, um jurista de
qualidade, quando esse problema chamou a atenção dele, e ele,
corretamente, levantou a questão , há uma série de despesas em relação a
elas: nós temos mais de R$100 bilhões, por ano, mas não há
transparência a esse respeito, e nós vamos cobrar do Governo que isso
seja feito.
Por último, eu queria aqui deixar algo mais bem-humorado como encerramento.
Eu
tenho falado muito de antileis que estão em funcionamento no Brasil, e
são antileis mais próximas, digamos, do estilo do atual Governo. Quais
são essas antileis? E digo essas palavras para efeito de encerramento,
meu caro Senador Fernando Bezerra Coelho, agradecendo, desde logo, muito
especialmente sua intervenção aqui.
Primeira,
há uma distância muito grande entre falar e fazer. Existe a seguinte
lei: Sobre qualquer assunto, fale-se bastante; exponham-se poucas
ideias concretas. Essa é uma lei que, se V. Exªs forem verificar, se cumpre de maneira rigorosa.
Segunda,
uma atitude pré-euclideana. O Euclídes de Alexandria deu-nos o axioma,
de que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta, mas o
Governo insiste em que a menor distância entre dois pontos é uma
espiral, uma linha torta, uma linha curva, isso diante de cada questão
que tem que enfrentar.
Terceira,
que são também pré-copernicanos, quer dizer, não é a Terra que gira em
torno do Sol; é o Sol que gira em torno da Terra. Ou seja, o PT e seu
governo são o centro do universo brasileiro, em torno do qual giram as
instituições e as pessoas. De modo quando há oposição ou noticiário
pouco favorável da imprensa o universo brasileiro corre o risco de
explodir, sob novos big-bangs.
Uma
outra antilei que é observada com rigor é a seguinte: transformar,
sempre, todas as facilidades encontradas em dificuldades. Quando se pode
criar uma dificuldade, mesmo diante de algo fácil, cria-se a
dificuldade, ou seja, soluções que viram problemas.
Uma
quinta antilei é a seguinte: Governo não é para governar, é para
aprender. Chega-se lá e faz-se a experiência. O sujeito vai e aprende,
depois de um, dois anos. Eu me lembro da Ministra do Planejamento,
depois de dois anos no Ministério do Planejamento, dizendo que eles
estavam aprendendo. Aprendendo. Enquanto isso, a crise, os problemas
brasileiros requerendo urgência, requerendo preparo.
A sexta antilei é da formação e funcionamento das equipes de governo.
Há
um princípio que se não valesse, a Presidente Dilma emitiria uma medida
provisória nesse sentido. É o de que cada chefe de equipe do governo
deve ter um conhecimento menor do que o da presidente, quando, na
verdade, qualquer norma de bom governo é ao contrário: nós devemos nos
cercar de gente que, em cada área, saiba mais do que nós, ou, pelo
menos, acreditarmos nisso.
E,
finalmente, a antilei de que a incompetência não dói. Não há nenhum
problema em ser incompetente na vida pública. Isso não seria, digamos,
um demérito. Volto aqui à frase que eu citei do Millôr Fernandes: que,
na verdade, é um grande erro da natureza fazer com que a incompetência
não doa.
Muito
obrigado, Sr. Presidente! Muito obrigado, Srs. Senadores! Obrigado do
fundo do coração e obrigado também pela disposição para darmos a batalha
pela verdade e pelo nosso País, juntos.
Eu
quero dar aqui o meu testemunho público, Senador Jucá, porque eu já o
fiz em privado, sobre o espírito de cooperação que V. Exª tem com
relação a enfrentar questões difíceis, às vezes na área econômica, às
vezes na área política, coisa que eu aprendi desde quando fui Senador em
outra legislatura. Foi graças a V. Exª que nós conseguimos renegociar a
dívida de São Paulo nos anos noventa. Foi graças a V. Exª que nós
eliminamos essa aberração que eram os juros de 20% ao ano onerando as
dívidas de precatórios reduzimos para 7% , algo muito importante para
a Administração Pública no Brasil, inclusive para o combate ao déficit
fiscal das três esferas de governo. Conseguimos isso graças à cooperação
do Senador Jucá e, certamente, vamos contar com essa colaboração dele
em muitas questões, inclusive no projeto do voto distrital nos
Municípios com mais de 200 mil eleitores.
Muito obrigado!
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