segunda-feira, 11 de maio de 2015

Sociedade 13 de Maio, rumo ao reconhecimento como patrimônio histórico do Estado

Barjas Negri - Publicado no JP - 9 de maio de 2015


Ilustração: Erasmo/JP

O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Cultural do Estado de São Paulo - Condephaat começou o processo para de tombamento de três clubes sociais, criados como locais de resistência ao preconceito e também como espaço de lazer e interação entre negros.
Os três clubes, todos datados do final do século 19 e início do século 20, são: o Grêmio Recreativo Familiar Flor de Maio, de São Carlos, o Clube Beneficente Cultural e Recreativo 28 de Setembro, de Jundiaí, e a Sociedade Beneficente 13 de Maio, de Piracicaba, o que deixa qualquer piracicabano cheio de orgulho.
O 13 de Maio surgiu em 19 de maio de 1901, como Sociedade Beneficente Antonio Bento, fundado, na rua Benjamin Constant, por um grupo de negros que queria comemorar o dia da libertação dos escravos de forma ordeira e organizada.
Em 1908, passou a se chamar Sociedade Beneficente 13 de Maio, tendo sua sede foi transferida para a rua 13 de Maio, onde está até hoje. Na época, era comando pelo prefeito, o coronel Febeliano da Costa, que assistia socialmente seus membros, na grande maioria, ex-escravos e descendentes.
São 114 anos de história, muitos deles de segregação, discriminação e preconceito. Para se ter ideia, até 1970 os negros não podiam frequentar os clubes dos brancos e, por muitas décadas, negros e brancos não misturavam nem nas calçadas e praças, como na Praça José Bonifácio onde negros eram proibidos de circular aos sábados, domingos e feriados à noite. Somente no carnaval de 1974, todos se misturaram pondo um fim à segregação, que também acontecia em outros municípios dos barões do café, como Campinas, Bauru e São Carlos, só para citar alguns exemplos.
A segregação acabou, mas o preconceito ainda existe. Às vezes de forma mais declarada, como no caso do enfrentado para alguns jogadores de futebol, outras de forma mais velada, mas ele ainda está lá. As dificuldades enfrentadas pela entidade também veem até um período muito recente - 2013 - quando o prédio de sua sede foi penhorado e leiloado pela Justiça.
Agora, o prédio da Sociedade 13 de Maio, que é um verdadeiro patrimônio histórico, cultural social e político da cidade, também tem o seu valor reconhecido pelo Condephaat. Em reportagem publicada na Folha de São Paulo, em 25/05/2014, a presidente do conselho estadual afirmou que o documento pede o tombamento dos três clubes levanta a discussão sobre o significado do patrimônio. ‘É preciso romper com a ideia de que apenas monumentos podem ser tombados e reconhecer também as práticas sociais, culturais e políticas‘, disse. Impossível não concordar com ela, pois o 13 de Maio não era apenas um clube social; era ponto de apoio à comunidade e servia de referência para amparo social.
Tenho certeza que não somente o 13 de Maio, como também o Flor de Maio, de São Carlos, e o 28 de Setembro, de Jundiaí, serão tombados como patrimônio histórico e cultural do Estado de São Paulo porque é exatamente isso o que eles são. Eles trazem, junto com os seus prédios, um patrimônio muito maior, que é a sua história.
Esses lugares foram a primeira manifestação organizada da comunidade negra da região e mostram a resistência, poucos anos depois da abolição, ao preconceito e à discriminação e o início da luta por direitos. A população de Piracicaba, que já tinha orgulho da Sociedade 13 de Maio, terá em breve mais um motivo para se orgulhar ainda mais.
Barjas Negri foi prefeito de Piracicaba (2005-2012).

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